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sábado, 17 de janeiro de 2015

É possível um regente numa república? Houve algum assim no Brasil à partir de 1891?


(Delfim Moreira)
 
Regência é algo, que só acontece em monarquias, na qual o monarca por ser incapaz, pela menor idade ou doença física ou mental de vulto, passa a ser representado pelo regente, que pratica em seu nome os atos de estado e de governo. Isto aconteceu aqui no império pela menoridade de D. Pedro II e perdurou até aos 15 anos do imperador, quando este antecipadamente assumiu o poder, que lhe cabia. Nestes anos reinaram parcialmente e também governaram ao Brasil os regentes, que foram vários. Mas, no regime republicano não existem, em princípio, regências.
 
Aqui, porém, nesta terra abençoada por Deus, surgiu uma exceção, conforme todos que esta lerem poderão verificar. Mas, para contá-la é preciso começar a estória bem do início.
 
(brasão da Primeira República)
 
O Brasil, entre 1891 e 1930, teve a chamada Primeira República, ou República Velha, de caráter extremamente conservador. Um de seus presidentes foi Rodrigues Alves, eleito duas vezes, que cumpriu integralmente o primeiro mandato (1902 a 1906), mas faleceu antes de assumir o segundo deles, que deveria se estender de 1918 a 1922. Tal se deu, pois ele contraiu a gripe espanhola e não tomou posse na presidência da república em 15 de novembro de 1918. O vice-presidente eleito, Delfim Moreira, assumiu-a interinamente nesta data e ali ficou no aguardo da recuperação do titular do cargo. Em virtude do falecimento deste último, ocorrido em janeiro de 1919, Delfim Moreira assumiu, em definitivo a presidência. Note-se, que de sua posse em 15 de novembro até ao falecimento de Rodrigues Alves, Delfim Moreira sempre o visitava para pedir sua orientação e conselhos, mostrando fidelidade pessoal ao primeiro mandatário então valetudinário.
Ai, é que a chapa esquentou, pois embora contasse apenas 50 anos, ele foi acometido por uma arteriosclerose precoce, que o levava a ausências ao trabalho, além de torna-lo desconcentrado e desligado de suas tarefas e o que é pior, até a atitudes insensatas. Era preciso salvar a república, como ela era então e a chave para isto foi encontrada no próprio ministério, que incluía o político mineiro, Afrânio de Melo Franco, que ocupava a pasta da Viação; o qual passou a presidir de fato ao Brasil em nome do presidente incapacitado e isto até que um novo mandatário nele se aboletasse.
 
 
 
(Afrânio Melo Franco)

Independentemente da regência de fato e feita ao arrepio das leis vigentes, cumpriu-se corretamente a Carta Magna de 1891, convocando-se novas eleições apenas para a presidência, sendo eleito Epitácio Pessoa em 13 de maio de 1919. Em 28 de julho de 1919, Delfim Moreira encerrou seu período presidencial, apenas de direito e passou o cargo á Epitácio Pessoa, continuando é claro na vice-presidência, mesmo que apenas formalmente.
Seu mandato presidencial foi de apenas 8 meses e 16 dias, que, aliás, não foram fáceis, sendo marcados. por diversos problemas sociais, refletidos em inúmeras greves de trabalhadores. Nele, reformou-se a administração do território do Acre, republicou-se o código civil brasileiro, com várias correções ao texto original de 1916 e decretou-se intervenção no Estado de Goiás. Mas, parece que o ministro Melo Franco foi eficiente em tudo isto, salvo nas questões sociais todas tratadas como assuntos exclusivamente policiais.
 
Afrânio Camorim Jacaúna de Otingi de Melo Franco (1870 —1943), pela sua importância institucional, merece ser lembrado, ainda que brevemente, pois além de político foi diplomata. Seus dois filhos, Afonso Arinos de Melo Franco e Virgílio de Melo Franco, também foram ao seu tempo duas personalidades de destaque na vida pública brasileira. E ele não encerrou sua atuação pública como regente, continuando-a, tanto que como partidário da Revolução de 1930, acabou sendo ministro das Relações Exteriores, de 1930 a 1934, sucedendo à Otávio Mangabeira e ai sob a égide de Getúlio Vargas.
 
Quanto ao ex-presidente, Delfim Moreira, este faleceu em 1.º de maio de 1920, em Santa Rita de Sapucaí, Minas Gerais, quando ainda ocupava a vice-presidência do governo de Epitácio Pessoa, sendo nela sucedido por Francisco Álvaro Bueno de Paiva.
Pessoalmente, acho que algo assim só poderia suceder naqueles tempos idos, em que o poder de direito e fato pertencia a grupos oligárquicos, que o dominavam com mão de ferro, inexistindo qualquer oposição eficaz. Se isto fosse hoje, imaginem o que haveria; com certeza, nada do que então ocorreu.
Mas, fica aqui o registro histórico neste site, da única regência republicana, que o Brasil teve em toda a sua história neste regime de governo.
 
As imagens demonstram a validade do dito popular, de que tamanho não é documento.
 
Fontes:

 
Wikipedia, a enciclopedia livre
http://pt.wikipedia.org/wiki/Delfim_Moreira
Acesso em: 10/03/2010.

 
Wikipedia, a enciclopedia livre
http://pt.wikipedia.org/wiki/Afr%C3%A2nio_de_Melo_Franco
Acesso em: 10/03/2010.

 

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