Aponta-se ainda, com bastante insistência, que o agitado ano então
vivido reclamava antes um fino diplomata e um espirito mais tolerante,
qualidades de que não desfrutava Ouro Preto, que pela forma direta, ainda que
legalista com que atuou, bem mais acirrou os ânimos dos militares
descontentes contra o regime e a classe política.
(Baile das Ilha Fiscal-tela de Francisco Figueiredo) |
Anote-se a propósito do baile da Ilha Fiscal, aqui relembrada pela tela
agora reproduzida, de autoria de Francisco Figueiredo, que o mesmo foi uma
iniciativa do ministro e visconde visando em especial aparentar naquela reunião
um inexistente ambiente de solidez e prosperidade da monarquia brasileira.
Oficialmente, a festa comemorava as bodas de prata do casal de príncipes,
Isabel e Gastão, e ainda homenageava a oficialidade do navio de
guerra chileno Almirante Cochrane, então surto no porto carioca. Realizado
no dia 09 de novembro de 1889, precedeu de poucos dias a queda da monarquia, e
foi muito dispendioso (250 contos de réis), retirados de uma verba
antes destinada a socorrer os flagelados da seca no Ceará. Imagino, que
estes ficaram ao léu e sem este socorro, face a total mudança geral então
ocorrida no estado brasileiro.
(e mesmo com tudo isto a bela bandeira ainda tremulava no Brasil.....) |
E foi o que aconteceu, quando um agrupamento militar de aproximadamente
500 homens, liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca e constituído por dois
pequenos regimentos de cavalaria e um de artilharia se revoltaram, coadjuvados
por alunos das duas escolas militares do Rio – a Escola Militar da Praia
Vermelha (estes a certa distância) e a Escola Superior de Guerra (estes bem
presentes a demonstração). Os referidos militares se posicionaram na frente da Secretaria
da Guerra e com a adesão de todas as demais tropas militares e policiais, que a
defendiam, depuseram ao gabinete, liderado pelo Visconde de Ouro Preto. Alguns
republicanos, entre eles Quintino Bocaiúva, então se fizeram presentes no seio
da pequena multidão de civis, que acompanharam o ocorrido. Foi a jornada do dia
15 de Novembro, ocorrida na manhã deste mesmo dia, na qual tão somente se
promoveu “manu militari” a deposição daquele gabinete, ainda que amiúde se
confunda a ela com a proclamação propriamente dita, que veio depois, conforme
melhor adiante explicarei.
(Deposição do gabinete - tela de Benedito Calixto -1893) |
E porque isto ocorreu? Tudo resultou de algumas ações
governamentais, implantadas ou em vias de o serem no Rio e no seu entorno,
e que consistiram na convocação da Guarda Nacional na capital imperial, no
aumento do efetivo da polícia militarizada desta e da província do Rio de
Janeiro, na criação da guarda cívica (um policiamento civil) ainda na capital
do país, equipando a soldadesca policial e os guardas nacionais com
fuzis modernos (de marca Comblain). Estas medidas e mais a transferência
do 22.° Batalhão de Infantaria do Rio para a província do Amazonas,
ocorrida pouco dias antes da Proclamação enegreceram e agravaram
ainda mais o cenário militar carioca (na verdade ela se dera a pedido do
presidente da citada província e em nada visou afetar ao exército) e ajudaram a
criar a perspectiva que depois delas consolidadas haveria a
compulsória movimentação das unidades do exército da capital, que tinham
armamento antiquado e inferior aos Comblain (usavam ainda os fuzis
Minié), e portanto impotentes para reagir aquelas ordens para os mais
longínquos rincões do país, aonde elas facilmente acabariam
minimizadas e reduzidos a expressão mais simples, sem nenhuma capacidade
militar de atuar. Estes supostos planos passaram a circular na
oficialidade da 2.° Brigada e acabaram chegando ao próprio Marechal
Deodoro, que retornara recentemente a cidade (chegou em 13 de setembro),
desgostoso com o governo liberal de Ouro Preto e até com seus companheiros de
agremiação, os conservadores.
Tais receios certamente aumentaram em muito o descontentamento já existente, notadamente na 2.° Brigada, mas depois repercutiram desfavoravelmente na 1.° Brigada, que eram as duas grandes unidades do exército na capital. Em especial tal foi aceito como real pelo Marechal Deodoro.
Tais receios certamente aumentaram em muito o descontentamento já existente, notadamente na 2.° Brigada, mas depois repercutiram desfavoravelmente na 1.° Brigada, que eram as duas grandes unidades do exército na capital. Em especial tal foi aceito como real pelo Marechal Deodoro.
No fim foi isto no seu conjunto, que acabou equivalendo a um depósito
de pólvora munido de um rastilho, que foi sendo acumulado, permaneceu
secreto e bem isolado até ser aceso na noite do dia 14 de novembro por outro
oficial, o Major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, e que detonou o movimento
sedicioso na 2.° Brigada, Escola Superior de Guerra e Colégio Militar do Rio
(ao qual depois aderiram as demais tropas cariocas), no que foi a última e mais
importante das "questões militares".
(fuzil Minié) |
(carabina Comblain) |
Depois do advento da república e já sendo pública a falaciosa teoria, o
Visconde de Ouro Preto negou terminantemente ter seu governo em mira tais
propósitos. Quanto à recriação da guarda nacional apenas no Rio, disse ele,
esta era legalmente permitida, e pelo menos na minha ótica isto e
ainda quaisquer outras medidas concomitantes adotadas ou apenas anunciadas
decorreram da indisciplina, que grassava nas tropas do exército, sendo
uma providência apenas acautelatória do governo visando dar-lhe
respaldo armado diante de uma eventual e mesmo que
parcial sedição do exército no Rio.
(continua...)